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Evangelho

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Aquela tarde

Há alguma coisa que me transmite uma enorme alegria de viver no contacto, no trabalho com o Joaquim e o Nuno: a inabalável confiança na realidade, na sua transcendência. Por outras palavras que é isto senão amor à vida? Parece que me estão sempre a mostrar que só é preciso não nos deixarmos ficar surdos, cegos. O cinema com eles só difere da vida porque usam duas máquinas. Apetece dizer que fazer cinema é usar uma máquina para gravar som e outra imagem. Ponto final. Estaremos sempre perante Deus, não vale a pena fingir. E grava-se, filma-se aquilo que é verdade, vale sempre a pena, se o que se passa se passa mesmo, sem batota. Aquilo que as circunstâncias nos permitiram viver. Parece tão simples como a vida. Mas depende do amor. Da capacidade de amar. De nos expormos, de não ter medo. E de gostarmos do que nos rodeia e dos que nos rodeiam.

O Evangelho de João é todo ele uma definição do amor. Tem-me acompanhado numa imensa ânsia de alternativa para uma sociedade hipócrita, uma organização política do mundo actual verdadeiramente assassina, para uma tardia educação filosófica que não me deixe triste quando perceber que vou morrer. A tarefa a que se dedicam o Joaquim e o Nuno é para mim uma exemplar militância política: mudar pelo exemplo a maneira de viver de toda a gente. E bastou não me deixarem parar, porem-me no meio do campo a dizer o Evangelho só com eles e dois amigos mais como parceiros, sentir que o sol se punha enquanto eu lia a narrativa das palavras que João deixou escrito que o Cristo que ele amava disse há dois mil e tal anos, para toda a fancaria artística deixar de me interessar. Eu só quero entender. E ter companhia. “Creio no Espírito Santo.” E não quero perder a vida em compromissos.

Luis Miguel Cintra

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© 2013